___uniVersos femininos


Lena Gal: Canto da manhã


Árido



Ela já não chora mais...

Seus olhos sempre marejados

Não verte a lágrima precisa.

Acha que a vida não vale nada

E segue em passos apressados

tentando antecipar a reta concisa

para decerto converter em óleo,

sagrado, a lágrima que cairá furtiva.


Se houver tempo...

se houver premissa.


by Mirse Souza



Lena Gal: Terra de brisa perfumada



Coisas de mulher



Que mulher jamais aturou

reclamação de chefe mal humorado,

cantada de bêbado atormentado,

bronca de motorista mal educado

ou ciúme doentio de um namorado?


Que mulher nunca sentiu dor

do bife tirado da cutícula,

de cotovelo, parto mental,

por ter feito papel de ridícula

ou pelo fim do caso virtual?


Que mulher jamais ocultou

lágrimas de felicidade,

a sua verdadeira idade,

excesso de adiposidade

ou passar fome por vaidade?


Que mulher nunca teve que dar jeito

numa meia desfiada,

numa amiga bandida,

numa relação falida

ou numa unha lascada?


Que mulher jamais se culpou

pelo filhinho na escola menosprezado,

pela atitude do namorado safado,

por não ter ficado com o bico calado,

por bisbilhotar o celular do amado?


Que mulher nunca

quis vir monge na próxima encarnação,

nem clamou estar farta de chateação?

Lá no fundo, pronta pro que der e vier

sente orgulho por se chamar Mulher.


by Maria Paula Alvim



Indicação de leitura:


As duas criações da artista plástica Lena Gal, aqui expostas, foram localizadas em artigo escrito pela poetisa Nydia Bonetti, publicado no blog Efêmeras letras. Para ler a matéria clique no título do post: Nydia Bonetti conta Lena Gal.

* Quem a vê... não a sabe


arte : Pino Daeni


Quem a vê


terna e pacata


meiga e cordata


olhar sereno


não a conhece



Quem a vê


sobre a sacada


em sonhos debruçada


gesto ameno


sente que não desfalece



Seios proeminentes


escondem pulsações


olhares intermitentes


guardam rios de emoções



Quem a vê


em trajes comportados


sorriso discreto e são


desconhece que provou


o gosto doce do figo


nas vestes naturais de Adão



Úrsula Avner